Processo

&

Decisão

Consultoria

Seção de Artigos Externos

Responsável Rui Tavares Maluf

 

 

Voltar para a página principal

 

 

 

 

Postado em 4 de Janeiro de 2012

A TROCA DE GOVERNO NA GUYANA

Por Rui Tavares Maluf*

 

A eleição presidencial da Guiana realizada no segundo semestre de 2011 elegeu para presidente Donald Ramotar (61), que tomou posse no último dia 3 de dezembro. Como eu já esperava, o processo eleitoral e a posse do novo governante passaram desapercebidos da imprensa brasileira , sul-americana e internacional de maneira geral, uma vez que se trata de um país pequeno em termos populacionais (766,2 mil habitantes) e econômicos (PIB estimado de pouco mais de US$ 3 bilhões), com uma economia apresentando baixo índice de integração à economia brasileira e a dos demais países vizinhos. Mas se a ausência de visibilidade das eleições guianenses já era um fato esperado isto não quer dizer que eu a considere aceitável por algumas razões dentre as quais menciono três, a saber: 1) a criação da União dos Países da América do Sul (Unasul) é um exemplo do esforço de alguns países, especialmente do Brasil, de construir um forte bloco político e econômico no qual todos os estados da região, sem exceção, estejam presentes e estreitem laços em vários campos; 2) o fato de a Guiana fazer fronteira ao Norte do Brasil e isso por si só representa problemas devido aos fluxos populacionais na região acompanhados de atividades ilícitas muitas vezes; 3) a eleição de um presidente que sucede o mais longo governo do ainda jovem ex-presidente Barragt Jadeo (46), o qual, a despeito de todas as tensões políticas da nação desde sua independência (muitas das quais de fundo étnico), propiciou um dos períodos de maior projeção e desenvolvimento.

 

A posse de Ramotar, que é filiado ao mesmo partido de Jagdeo, o PPC/C, e foi seu secretário-geral nos últimos anos, representa uma continuidade político-administrativa, ainda que o novo chefe de Estado tenha reconhecido em seu discurso de posse que muita coisa precisa ser feita quanto à redução da desigualdade social, do desenvolvimento econômico e do combate à corrupção. Marca desta continuidade político-administrativa se verifica na manutenção da maior parte do ministério de seu antecessor, especialmente nas pastas estratégicas.

 

Observe a evolução do intercâmbio comercial bilateral Brasil-Guiana (importações mais exportações) a partir das informações disponibilizadas pelo Ministério das Relações Exteriores em milhões de dólares. O montante transacionado é efetivamente pequeno, mas seu valor duplicou em sete anos (2003 a 2009) partindo de um patamar de US$ 9,69 bilhões para US$ 19,47 bilhões, com enorme superávit brasileiro e indicando uma tendência de franca melhoria. No primeiro trimestre de 2010 (último período disponível) o valor já alcançava US$ 5,25 bilhões. Em parte o lento crescimento mais recente e mesmo alguma oscilação negativa trata-se possivelmente um indicador da difícil situação econômica européia, norte-americana e mundial. É evidente que a Guiana precisa melhorar muito mais sua posição comercial em relação ao Brasil, e o novo presidente já mostrou tal preocupação durante entrevista ainda como candidato quando visitava os EUA em 2011.

 

Estabilidade política com democracia e desenvolvimento econômico não se constituem em poucas coisas para países da região, especialmente os menores. Esta condição mereceria uma atenção maior da mídia e de nossos think tanks. Mesmo que tal não tenha ocorrido (ainda), torço para que esta situação se altere nos próximos anos, propiciando um maior conhecimento de ambas as partes para o benefício de todos. Certamente, a ignorância é inimiga do avanço.

*RUI TAVARES MALUF é sócio-diretor de Processo & Decisão Consultoria, professor da FESPSP. É Doutor em Ciência Política pela USP (2006) e mestre em Ciência Política pela UNICAMP (1993).

 

PALAVRAS-CHAVES: <América do Sul><Guiana><Governo><Donald Ramotar><Posse><Brasil><Relação Bilateral><Comércio Exterior><Unasul>

 

 

***